confronto de valores

"Duas crianças italianas sofrem de uma doença extremamemnte rara, que, levando a uma paragem do crescimento muscular e ósseo, provocará em poucas semanas a morte. Têm estado a ser tratadas com um medicamento chamado Somatomedina C, que é fabricado por um único laboratório no mundo, a firma americana Chiron.
O medicamento é muito caro, e esta doença afecta apenas (felizmente) cem crianças no mundo: designa-se por "Síndrome de Laron". O laboratorio utilizou umas das crianças, Chiara, como cobaia do produto farmacêutico e por isso durante três anos ela teve o medicamento com os melhores resultados.
Neste momento, o laboratório considera que o custo dos medicamentos não é compensador (feitas as contas, são só cem crianças...) e decidiu suspender a sua produção. O médico, Ammon Cohen, escreveu ao presidente Bush a pedir que intervenha [...] mas não sei se poderá intervir contra uma lógica de mercado.
Esta lógica começa quando um responsável, ao entrar num colóquio, pergunta quanto custa, faz contas ao número de pessoas na sala e avalia a despesa por espectador. Mas aqui a lógica não mata - era preciso que o ridículo matasse. Só que a lógica continua e chega ao problema dos laboratórios indifentes à cura da malária no Terceiro Mundo - não compensa, provoca apenas dois milhoes de mortos por ano."

Eduardo Prado Coelho, in Público 2001